~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~Castelo Evans - Londres ~~~~~~~~~~~~~~~~

O mágico suava. Parte disso era excitação e nervosismo, a outra parte era medo e ansiedade, mas ele estava mandando tudo isso pro espaço junto com as borboletas que insistiam em fazer um furação em seu estômago. E ele planejava, e pensava, e criava, e suava, e rimava e sorria. Kalyan estava a beira do maior sucesso que poderia ter, e ninguém precisava ter ciência do seu segredo do ilusionismo.

Com um suspiro pesado, Kalyan mandou tudo para o fundo da sua mente e preparou-se mentalmente para que a entrada fosse triunfal. Haviam coisas que ele podia fazer, e coisas que ele não devia tentar. Mas isso seria divertido. Com um sorriso maroto, preparou-se para rimar o que seria um bom jeito de ganhar o público

"É agora", pensou o jovem. Entrou caminhando a passos lentos, porém amplos e declamando sua entrada.

Com essa rima, Kalyan ordenara que várias borboletas saíssem de seu corpo e sobrevoassem o salão, espalhando glitter prateado e um vento frio, aumentando assim a esfera de tensão e expectativa. O Hype que queria criar com isso era para mostrar que tudo ainda era a base e que ele poderia fazer muito mais, porém, que era melhor começar pelo básico. Guardava uma expressão confiante de quem fazia tudo com a certeza que jamais erraria uma rima. Sua persona confiante, seu mágico Anfitrião tinha se revelado.

— Well, Well... Olá, meus caros amigos! Bem vindos ao show de maravilhas e deslumbres que se guardam pelo encanto de feitiços! Eu sou seu nobre Anfitrião, mas podem me chamar de O Menestrel! É uma honra servir tão nobre casta de mecenas, e espero que meus truques estejam a altura de sua apreciação. "O que foi feito, seja desfeito. Volte ao seu estado perfeito". E com essa rima, Kalyan encerrara a ilusão das borboletas, deixando espaço para os aplausos e para os pedidos, apesar de já ter certeza de qual seria sua próxima ilusão.

— Venham, crianças. Não sejam tímidas, pois a timidez é uma rédea que não se pode permitir no palco. O que desejam que eu faça aparecer? Uma mesa com comida para comer? Bebidas para beber? Ou eu devo ser clichê? Falem o que querem, crianças, pois hoje é um sonho, amanhã é uma incerteza e nem por isso o futuro perde a beleza.

Usar suas rimas sem ativar seus poderes estava ficando mais fácil. Ele ainda tinha seu caderno que ele podia usar, apenas destacando páginas para criar ilusões temporárias. Mas porque não brincar e induzir as crianças a perderem a timidez serem o queriam realmente ser: crianças que podem brincar sem as regras tolas da corte. Usou apenas 12% de sua capacidade para essa sugestão, pois não queria que nada saísse do controle.

— Leão? (Risadinhas) Claro, meu nobre Lorde. Se é isso que queres, eu lhe farei aparecer um leão, aqui, no meio da civilização. Mas se me permite algo melhor, afaste-se, pois eu precisarei me concentrar. Com um sorriso perigoso, Kalyan fechou os olhos e começou a rimar.

Pedidos que aqui foram feitos
Pelas almas puras e agitadas
Atravessem o tempo e espaço
E que suas preces sejam realizadas

Pois que agora sejamos levados de vez
Outro mundo iremos ver e habitar
Agora abandonaremos a rotina do chá das seis
E na floresta dos sonhos iremos adentrar

Leões, pássaros e muito mais
Tudo isso você verá se o satisfaz
Agora vocês são o que desejam ser
Hoje vocês viverão o que sonharam viver

E que cada um encontre a própria felicidade
Dentro dos sonhos e das ilusões dessa cidade
Que na fantasia que cada um criou e desejou
Vocês possam ter o prazer que nunca encontrou

Um pirata, um super herói, um rei das Selvas
Tudo isso será realizado, tudo isso será feito
Basta tocarem os pés no orvalho e na relva
E vocês viverão seus desejos perfeitos

E aos pais preocupados ou desentendidos
Acompanhem seus filhos nessa hora de liberdade
Hora de ver o que eles levam pela curiosidade
Mas é claro, por vocês eles sempre serão protegidos

Hora de serem os expectadores das aventuras dos rebentos
Vejam o que eles podem criar em seus anseios
Permitam que na fantasia, eles se agarrem aos veios
Em sonhos de aventura, emoção e acalento

E assim, Kalyan usou todo o seu controle e sua pericia para distorcer a realidade ao seu redor para que cada criança pudesse viver seus sonhos e desejos, com seus pais de guardiões e protetores caso eles precisassem de babá. Seriam apenas minutos, sabia que não aguentaria manter essa ilusão gigantesca por tanto tempo, mas seria maravilhoso os dois ou 3 minutos que cada criança teria antes de tudo se desfazer. É claro, ele também aproveitaria a deixa para beber uma água e comer uma besteira, afinal, saco vazio não para em pé.

— Uou! Isso foi intenso, perigoso e provavelmente estúpido, mas vamos continuar o show das maravilhas aos trancos e barrancos, mas dessa vez com coisas mais simples e bobas. Mas primeiro...

Com essa rima, Kalyan fez com que todas as crianças voltassem a se comportar como ladies e lordes ingleses da mais alta nobreza. Mas ainda poderia arriscar algumas ilusões, mesmo que agora fossem apenas rimas pequenas e coisas ainda em níveis iniciais. É, Kalyan teria de recorrer ao bom e velho livro de cadernos. Com sua força de vontade em altos níveis, Kalyan sentou no chão e tirou se caderno de poemas, que deveria ter quase 50 páginas, pelo menos, com feitiços e poemas de várias formas. Era a melhor forma agora.

— Muito obrigado, Sr. e Sra. Evans. Eu agradeço imensamente pelos seus elogios e pela confiança emprestada, e eu espero ter sido a altura do que vocês esperavam. E bem, ilusionismo é apenas saber como conquistar a atenção do público. Eu agradeço novamente pela oportunidade que me deram ao me contratarem para esse show.

— "Isso vai ser provavelmente a coisa mais estúpida que eu posso fazer na minha vida, mas agora é hora de voltar ao Anfitrião" — Kalyan pensava consigo mesmo. A mulher de vestido de veludo branco poderia ser uma ameaça em potencial, mas tudo o que ele podia fazer naquele momento era agir como um perfeito gentleman e não levantar suspeitas de sua herança.

— Senhora, tente não se estressar. Uma beleza como a sua não deveria sofrer de preocupações como essas. A propósito, meu nome é Kalyan Maheswaran, mas pode me chamar de Anfitrião, quando quiser que eu apareça em uma das festas de seus filhos. — O jovem pega um cartão de negócios em sua carteira e entrega para a mulher, esperando ter causado uma boa impressão como anfitrião, mas era bom arriscar algo muito simples.

Com essa rima, Kalyan pretendia desfazer qualquer clima tenso que pudesse pintar entre os adultos naquele momento. As crianças tinham se divertido, mas era hora de os adultos também se divertirem. Tentou sussurrar isso de forma que todos ouvissem ao longe, para não atrair atenção.

— Bem, senhores, se me desculpam, preciso ir agora. Foi uma honra estar diante de pessoas tão nobres e educadas. Quando precisarem de qualquer animador de festas, me procurem que eu virei em um instante. Agora, com sua licença, gostaria de ir para casa terminar um trabalho da minha escola. Vocês entendem a vida de estudante trabalhador... Até mais, meus senhores.

Kalyan deu uma reverencia artística e caminhou calmamente como um lorde, para o local onde estava sua mochila com suas coisas. Tinha sido um dia proveitoso: o pequeno lorde tinha se divertido, os pais estavam relaxados e conhecendo os efeitos das rimas simples, poderiam durar pelo menos 4 minutos inteiros mesmo depois que ele saísse da festa. O que o preocupava, era chegar em casa a tempo do jantar, ajudar seus irmãos com a lição e terminar seus trabalhos e ainda revisar a matéria de biologia. Reunindo suas coisas, soltou um bocejo discreto, sentindo o cansaço e o sono percorrer seu corpo. Tinha certeza que tinha se excedido, mas tacou o foda-se e simplesmente se direcionou a saída, discando o celular para um taxi que o levasse a sua residência.