~~~~~~~~~~~~~~ Sede Movimento Pró-Experimentos ~~~~~~~~~~~~

Os gritos dos jovens inundavam o prédio localizado no centro de Los Angeles. Haviam centenas de garotos e garotas reunidos hasteando bandeiras do Movimento Pró-Experimentos e gritando coisa como "A EVOLUÇÃO PREVALECE", "HUMANOS SÃO ULTRAPASSADOS", "NÓS SOMOS A SOBERANIA", o que deixava tudo com um ar tenso, e até certo ponto macabro.

Deborah estava entre esses jovens gritando tão ferozmente quanto eles. Aquela era mais uma reunião do Movimento, e a garota podia perceber que a cada dia mais seguidores apareciam.

Deborah estava confortável, estava em casa. No meio da multidão, entre os seus, entre seu povo... Fora pra isso que ela fora criada. Bem, nao exatamente pra isso, fora criada para a guerra. Mas ali, em meio aos seus iguais... Era o mais perto disso que conseguia chegar. Gritava junto com a multidão, erguendo o punho no ar. Seu rosto estava pintado com o simbolo do MPE na bochecha, isso sem mencionar a tatuagem visível nas costas.

A cada segundo mais pessoas se aproximavam e se juntavam a manifestação, isso a deixava satisfeita, quanto maior os números melhor. Possivelmente cameras apareceriam em breve... Talvez ela aparecesse nos meios de comunicação. Sorriu satisfeita, nao por vaidade, mas imaginando a expressão de seu covarde irmão gêmeo ao vislumbrar tal coisa

'Isso nao vai facilitar as coisas em seu novo emprego chique, vai maninho?' - pensou com crueldade.

A multidão continuava a gritar até que uma figura mascarada apareceu no pequeno palco improvisado que se encontrava no hall do prédio. Aquele era o líder do Movimento, conhecido apenas por Dominador. A mascará escondia sua verdadeira identidade, mas muitos acreditavam que ele deveria ser um experimento fugitivo da primeira guerra.

O líder ergueu a mão pedindo silêncio e então começou a falar.

-- Experimentos, mais uma vez estamos reunidos para fortalecer nossas energias. Hoje, nos reunimos, para mostrar para todo o mundo o nosso poder.

A multidão gritou e o líder deu continuidade ao seu discurso.

-- Vamos mostrar, para os humanos que eles devem se curvar perante nós. A evolução sempre vence.

A multidão gritou mais ainda começando a tornar o clima tenso novamente.

-- Hoje, iremos mais uma vez as ruas e mostraremos que ou eles se curvaram por bem......ou por mal.

Dizendo isso Dominador apontou para a porta e a multidão começou a gritar e correr para as ruas de LA.

Deborah observou com admiração seu lider, sentia um enorme respeito pelo Dominador, sempre sentira. Era uma honra poder segui-lo. O discurso de incentivo nao era necessário a ela, mas ainda assim ela gostava de ouvir sua voz, por isso se pendurou em cada palavra.

Ela obedeceu a ordem de imediato, correndo em meio a multidão em direção as portas... Los Angeles se curvaria, talvez nao hoje ou amanha, mas cedo ou tarde teriam que ceder. Eles sequer tinham escolha, da mesma forma que os neandertais nao tiveram. Estavam destinados a desaparecer... Ela quase sentia pena.

Assim que a multidão saiu para as ruas os gritos e o caos começaram. Os experimento tomavam conta das ruas, pichando muros, destruindo tudo que estivesse pela frente, gritando coisas sobre evolução e assustando não só humanos, mas outros experimentos que passavam por ali.

Debora tinha certeza, que era no meio daquele caos que deveria estar, e mais uma vez a imagem do seu irmão veio a sua mente, lhe dando mais vontade de mostrar para todos o poder dos Experimentos.

O centro de LA estava tomado pelo caos, os Experimentos se concentravam na rua principal, fazendo com que os grandes prédios comerciais fechassem as entradas com medo de invasões.

A avenida se estendia com diversos comércios e prédios, todos fechando as portas enquanto a multidão tomava não só a rua principal, mas também vias paralelas. Tudo havia parado.

Deborah tentava segurar a risada de pura alegria. Empolgada seguia a multidão andando no meio das ruas e causando o máximo de caos que podia, com um chute potente derrubou um poste na direção de um dos predios e outro na direção de carros. Com um pouco de sorte causaria algum dano permanente em algum humano idiota.

Derrubar postes era divertido, mas ela queria algo mais desafiador. Seus olhos corriam pela rua a frente a procura de algo que realmente fosse causar danos permanentes e chamar atenção.

Os postes caíram causando um grande barulho e várias janelas quebradas. Não muito longe do local Deborah avistou um grupo de experimentos munidos de galões de gasolina, eles andavam em direção ao LA Garden, que ficava a algumas quadras dali e que normalmente servia de passatempo para humanos e experimentos.

Deborah não conseguia ver os olhos dos experimentos, mas apostava que eles deviam estar coloridos tamanha a empolgação que eles expressavam através de gestos.

Ao longe já era possível ouvir algumas sirenes, não demoraria muito e o local estaria tomado por policias.

Deborah avançou rapidamente por entre a multidao em busca de seu proprio galao de gasolina, bem como colocar uma distancia maior entre ela e policiais. Nao que os temesse, a maioria nao passava de humanos... Entretanto eles seriam um incomodo que ela preferia evitar.

A ruiva nao era muito fa de fogo. Entretanto espalhar gasolina e acender uma faiscazinha podia tornar as coisas interessantes.

Deborah logo achou um galão junto a uma pilha e rumou junto com o grupo em direção ao LA Garden. Várias pessoas estavam correndo de um lado para o outro, crianças choravam, mulheres gritavam, homens brigavam tentando sair do local mas parecia que os experimentos não deixariam isso acontecer.

Logo os garotos que Deborah tinha avistado antes começavam a reunir uma série de coisas em uma grande pilha bem no meio do parque. Ao que tudo indicava eram pertences roubados de pessoas que estavam passeando no parque na hora que o caos começou.

Deborah observou as crianças humanas chorarem com um misto de irritaçao e compaixao. Era algo muito contraditorio. Parte de si queria apenas mata-las e ter um pouco de silencio, parte de si, uma parte pequena e que ela sempre procurava calar queria aninha-los e consola-los.

Rosnou para si mesma com irritaçao, estaria amolecendo? Se tornando fraca exatamente como o maldito irmao? Balançou a cabeça em negativa caminhando em direçao aos limites de LA Garden e ali começando a espalhar gasolina, tendo o cuidado obvio de nao deixar nada respingar em si propria.

Queria fazer uma coluna de chamas que impossibilitasse os malditos humanos de sair. Pelo menos por aquele caminho...

Assim que os experimentos terminaram de jogar a gasolina nas saídas e na grande pilha de objetos um garoto, de no máximo 15 anos, que usava a mesma máscara do Dominador jogou um fósforo no rastro fazendo todo o caminho de gasolina acender de uma vez.

Mais gritos e choro foi foram ouvidos seguidos de urros dos experimentos.

As chamas aumentavam cada vez mais de tamanho e então a multidão começou a ouvir diversas sirenes de carros de policia, bombeiros e ambulâncias.

Deborah vibrava com a cor das chamas. Mesmo não gostando de fogo toda aquele clima lhe deixava super empolgada.

Não demorou para o parque estar cercado de diversos carros de polícia. Os bombeiros começavam a tentar apagar as chamas enquanto muitos experimentos começavam a abrir.

Deborah então ouviu o conhecido som do auto falante do departamento de controle da polícia de LA.

-- AQUI É A POLICIA DE LOS ANGELES. POR FAVOR, PEDIMOS PARA TODOS MANTEREM A CALMA, OS BOMBEIROS JÁ ESTÃO CONTROLANDO O FOGO E O DEPARTAMENTO DE CONTROLE IRÁ INICIAR SUA ABORDAGEM.

Deborah sentiu seu sangue ferver, sabia que o D.C estar ali significava que logo seu irmão também estaria ali.

O fogo era algo belo, Deborah fora ensinada desde cedo a teme-lo, mas ainda assim nao podia deixar de admira-lo. E o som dos gritos ali e naquele momento eram apenas a sinfonia para o espetaculo a sua frente. Que infelizmente logo se findou com a chegada das autoridades. bando de estraga prazeres!

Saber da presença dos D.C. a deixou tensa, e alerta, nao por medo. Mas por ter certez que Dimitriv estaria ali. Parte de si queria procurar o irmao e esmagar o seu cranio, outra parte queria cair em seus braços chorando de saudade, e outra queria distancia, so queria fugir e se esconder. Mas Deborah nao era nenhuma covarde. Nao fugiria. Permaneceria ali. Lutaria ao lado dos seus. E se Dimitriv cruzesse seu caminho... Pior para ele.

Assim que uma das saídas teve a passagem liberada, os policiais começaram a avançar em direção ao centro do LA Garden, local onde os experimentos se acumulavam. A equipe da D.C ajudava as pessoas a saírem de lá, e entre eles Deborah pode identificar seu irmão, Dimitriv.

O garoto ajudava as pessoas a saírem e usava o seu poder para fazer um escudo psíquico na saída do parque para que os humanos conseguissem sair tranquilamente. Dimitriv não tinha notado que Deborah estava entre a multidão de experimentos "baderneiros", ele estava concentrado usando seu poder que exigia muito autocontrole.

Deborah agiu pelo puro impulso, a furia de ver o gêmeo ali, praticando algo que ela considerava traição a sua especie... Ela agarrou uma pedra no chao atirou em direção a cabeça do irmão, nao com sua força excepcional, apenas o suficiente para atingir seu alvo. Nao intencionava desacorda-lo ou mata-lo, queria apenas chamar sua atenção. E assim que ele encontrasse seu olhar, ela acenaria com ironia e desapareceria junto com a multidão.

Sorriu observando a pedra em suas mãos. Embora fosse um pacifista, Dimitriv se revoltava tanto com o fato de ela pertencer ao MPE quanto ela se revoltava com o fato de ele pertencer ao D.C., ela conhecia bem o irmão, ve-la ali o irritaria da mesma forma como ve-lo irritava a ela... À menos que ele fosse extremamente hipócrita, o que nao era uma possibilidade nula.

Atirou a pedra.

Dimitriv sentiu algo atingir seu escudo com força e virou para o lado onde sentirá o impacto. Seu sangue gelou e logo em seguida ferveu ao avistar sua irmã entre a multidão. Ele não acreditava que ela estava envolvida naquilo.

Sabia do ódio sem sentido dela, mas aquilo era demais, atacar um parque? com crianças, famílias e idosos? Aquilo já era demais.

Olhou diretamente para Deborah, seus olhos oscilavam entre azul ciano e marinho e transmitiam algo entre ódio e decepção.

Seu escudo oscilou de leve por conta da desordem de sensações mas logo ele se estabilizou quando sentiu uma mão delicada tocando seu braço. Virou vendo sua noiva, Anastacia.

-- Não há tempo para isso Dimi, precisamos tirar todos daqui - a voz da garota era doce e Deborah pode perceber que seus olhos estavam normais demais para um experimento.

Anastacia fez sinal para as pessoas continuarem a saírem e se posicionou ao lado de Dimitriv olhando para Deborah.

Deborah sorriu ao ver que conseguira a reação que esperara do irmao. Por algum motivo irracional e infantil ela se sentia de certa forma vingada, em saber que ele estava tao furioso... Mas ainda nao era o suficiente. Seria quando ele se sentisse tao miserável quanto ela, quando entendesse exatamente o que era ser deixado sozinho, abandonado pela unica pessoa em quem confiava.

O odio e a decepção no olhar do irmao eram refletidos no olhar dela, Dimitriv nao tinha o direito de sentir nada disso. Fora ele quem a abandonara. Fora ele quem a traira e quem se voltara contra a propria especie. Ela notou vagamente a mulher ao lado do irmao, possivelmente uma companheira de trabalho e talvez a tal noiva do irmao. Uma serpente que provavelmente envenenava ainda mais o ouvido do gêmeo. Deborah nao gastou nem um segundo inteiro a avaliando, ela nao a interessava.

Seu olhar se encontrou de novo com o do gêmeo e ela se permitiu um sorriso recheado de ironia. Dimitriv nao poderia ouvi-la daquela distancia, mas nao importava, ele a conhecia bem. E sabia exatamente por que ela chamara sua atenção e o significado de toda sua postura corporal. Era uma promessa, eles se veriam de novo, ainda havia contas a se acertar.

Dimitriv continuou sustentando o olhar com Deborah com uma mistura de sensações. Ele não conseguia aceitar que sua irmã tinha se tornando alguém tão cego por um ideal sem sentido.

As últimas pessoas passavam por sua barreira e então escutou o alto falante da policia.

-- ATENÇÃO, TROPAS DE CONTENÇÃO ENTRARÃO NO PARQUE.

Dimitriv sentiu Anastacia puxar levemente seu braço mas o garoto não se mexeu, continuava a encarar Deborah. Mantinha seu escudo ativo, agora apenas protegendo ele e sua noiva. Usou seu poder para chegar até a mente de Deborah.

-- Saia......agora -- Deborah escutou a voz do seu irmão na sua cabeça. facia anos que não escutava a voz dele, e aquilo de certo modo foi um choque.

Deborah fitava o irmão com igual ira. Ela odiava-o, odiava quem ele havia se tornado, odiava o fato de ele ser um covarde, mais que tudo odiava sentir tanto sua falta. Sentiu o contado da mente dele e recuou um passo com o choque. Havia anos desde a ultima vez... Outrora suas mentes estava sempre ligadas e nao apenas por telepatia. Eles sempre haviam sido capazes de ler ao outro muito bem. Nao havia segredos entre eles...

Mas agora as coisas haviam mudado. Ele a traira. Tornara-se um inimigo, nao tinha o direito de invadir sua mente daquele maneira. Nao tinha o direito de opinar em nada. De dar conselhos ou de fingir se importar. No fundo era isso que mais a enfurecia. Ele a mandar ir embora, como se tivesse alguma preocupação com a sua segurança, quando na verdade tudo com o que se preocupava era com a propria reputação, com o seu empreguinho nojento de lambe botas covarde.

Deborah queria avançar nele. Queria quebrar o pescoço da maldita noiva diante de seus olhos. Queria que ele se sentisse tao desesperado e solitario quanto a fizera se sentir. Queria que pagasse caro por ainda tentar engana-la. Queria vingança.

- Nao finja. - rosnou - Nao aja como se desse a minima. Nos dois sabemos que nao dá. Caso contrario nao teria me abandonado - no momento que as palavras saíram de sua boca se arrependeu, nao queria soar como um cachorrinho deixado na rua - Nao teria nos traído - acrescentou erguendo os braços e gesticulando para a multidão do MPE que a rodeava. - Fique distante, maninho, na próxima vez que nos vermos nao terei tanto auto controle.

Erguendo o dedo do meio usou ele para soprar um beijo, com um sorriso cheio de ironia.

- Aproveite sua vidinha patetica e sua vadiazinha enquanto pode, Dimi, a guerra se aproxima.

E dito isso ela deu as costas e correu junto com a multidao para longe dali.

Deborah seguia a multidão de experimentos que fugia do parque. Seus sentimentos estavam uma grande confusão, queria voltar e enfrentar seu irmão, mas sabia que a situação a partir de agora ficaria complicada.

Iria voltar para a sede do MPE e ver o que faria dali por diante. Ainda tinha vontade de quebrar coisas e sua raiva também não era pouca.

Deborah, ainda furiosa e com o sangue quente, estava dividida entre retornar a sede do MPE e voltar pra enfrentar o irmao. Estava realmente tentada a retornar e enfrentar de frente toda a tropa de choque da opressão! Mas nao... Nao poderia abandonar seus verdadeiros irmaos e companheiros do MPE. Nao quando eles precisavam dela...

Trincando os dentes de puro odio ela se moveu com a multidao de volta à sede. Chutando um ou dois postes no caminho pra extravasar a raiva que parecia que nunca ia passar... Precisa urgentemente que alguem cruzasse seu caminho agora. Sempre se sentia melhor depois de bater em algo ou alguem.

À medida que caminhava olhava ao seu redor a procura de algum opressor em que ela pudesse nao apenas da o troco, mas se distrair...

Infelizmente, por conta da confusão, a ruas estavam ocupadas apenas por experimentos do MPE, eles se encaminhavam de volta a Sede. A maioria corria por conta da chegada da polícia.


Logo Deborah avistou a sede e resolver entrar de uma vez. Não iria conseguir achar alguém para descontar sua raiva.

O corpo ainda tremia de uma furia mal controlada quando adentrou a sede. Sua mao estava visivelmente fora de controle, tremulando em busca de algo que pudesse socar. Deborah nao descontava o odio que sentia nas paredes apenas por temer derruba-las... Talvez algum membro do MPE que tivesse invulnerabilidade tal qual ela.... Nao. Nao poderia. Restava-lhe apenas respirar fundo e tentar controlar a ira.

Deborah entrou na sede buscando rostos conhecidos. Queria saber se alguém tinha sido pego e o que iria acontecer agora.

Começou a andar entre as pessoas, aparentemente a polícia ainda não tinha permissão para entrar na sede da MPE ainda.


Em meio a multidão avistou então um rosto conhecido. Alto, compor entroncado, a camiseta com o simbolo do movimento, assim como uma tatuagem no braço. Nunca se enganaria, era Dave, o mais próximo de um "amigo" que poderia ter. Fora ele um dos seus primeiros contatos dentro do MPE.

Ela suspirou fundo, ainda fazendo um esforço hercculeo para se acalmar. As maos contudo ainda tremiam um pouco, mesmo que ela tentasse esconder feichando-as em punhos. Caminhou em direçao à Dave, em passos rapidos e precisos. Ao se aproximar o cumprimentou com um simples de aceno de cabeça.

- Acha que os tiras vao conseguir entrar aqui? - questionou

Intentava puxar uma conversa e se distrair, contudo nao gostou do tom em que sua voz saiu, forçada e ainda meio gutural da profunda ira que sentia.